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25 ANOS DA LICENCIATURA EM TURISMO DA UTAD

25 ANOS DA LICENCIATURA EM TURISMO DA UTAD

Perfaz estes dias 25 anos a oferta educativa de primeiro ciclo (licenciatura) em Turismo da UTAD. A data passou um pouco despercebida, mas com esta nota quero refletir e salientar alguns significados desta data para a UTAD, a região Norte de Portugal e o país. Primeiro começo com um pouco de “História”. A licenciatura em “Recreação, Lazer e Turismo” (designação original) foi criada pelo despacho 6843/97 (Diário da República, IIª Série n.º 200 de 30 de agosto de 1997), e entrou em funcionamento, no Polo da UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro) na cidade de Chaves, no ano letivo de 1998/1999. A duração do curso era de cinco anos, com uma estrutura curricular baseada em disciplinas semestrais. O 5º ano estava focado no desenvolvimento de um estágio de práticas em instituições e empresas e na realização de um projeto de investigação turística sob a forma de tese de licenciatura. O curso foi promovido pelo Prof. Dr. José Vasconcelos Raposo, quem trouxe da ideia da sua formação em EUA, sendo na altura Reitor da UTAD (1990-2002), o Prof. Dr. José Manuel Gaspar Torres Pereira. Torres Pereira acreditava muito no desenvolvimento local e territorial do interior por via do conhecimento académico e o desenvolvimento de competências dos agentes de desenvolvimento, incluindo o turismo como uma estratégia compósita e articulada com outras na área das ciências sociais, humanas, agrárias, naturais, etc. Os primeiros anos de funcionamento do curso em Chaves foram anos muito alentadores e apaixonantes. Os docentes estávamos a aprender a ensinar e investigar turismo, e como não há melhor forma de aprender que ensinar, os estudantes acabavam por enriquecer e ganhar muito com essa paixão docente, que era transversal e dialógica aos funcionários e à bela cidade que nos acolhia. A nossa era, e continua a ser, a única licenciatura universitária (não politécnica) pública (não privada) do Norte de Portugal, e isso foi todo um desafio e responsabilidade. A formação superior em turismo tinha começado em Portugal havia relativamente pouco tempo e o entusiasmo era grande. A investigação sobre o turismo feita na UTAD também começou aos poucos a ser importante e ligar-se ao nascente CETRAD (Centro de Estudos Transdisciplinares para o Desenvolvimento), onde foi criada uma linha de investigação sobre turismo e desenvolvimento.

No ano 2008 foi realizado o registo de adequação ao processo de Bolonha (R/B-AD105/08) da Licenciatura, mudando a duração do curso de 5 para 3 anos. Igualmente mudou também a sua designação de “Licenciatura em Recreação, Lazer e Turismo” para “Licenciatura em Turismo”, que é a que hoje em dia está em vigor. Estas mudanças supuseram uma nova orientação pedagógica e científica do curso, mais virado para a gestão turística e menos para a animação turística, mais politécnica e menos universitária, mas conservando ainda uma certa multidisciplinaridade com uma forte ancoragem nas ciências sociais e na gestão. A licenciatura era tão multidisciplinar que nele colaboravam docentes de todas escolas da UTAD, o que ajudou a criar uma comunidade prática pedagógica muito enriquecedora para docentes, alunos e comunidade envolvente. A identidade do curso também estava ligada à fronteira com a Galiza e a ancoragem territorial no Alto Tâmega e Barroso, beneficiando a região desta localização.

Em 2013 foi remodelado o plano de estudos e a partir do ano académico 2014-2015 o curso deixou de funcionar no Polo da UTAD em Chaves, por encerramento do campus, e passou a funcionar em Vila Real, o campus central e hoje único campus da UTAD. A identidade socioterritorial do curso tornou-se mais duriense e menos transmontana, recebendo muitos alunos do litoral que procuram uma formação no interior, um interior relativo e já relativamente melhor conectado do que no passado com os centros demográficos e políticos. Em 2015 foi publicado em Diário da República o Regulamento da Licenciatura em Turismo da UTAD (Diário da República, 2ª série, nº 43, 3 de março de 2015, pp. 5319-5322) e até o momento sofreu duas novas remodelações (ver: https://www.utad.pt/estudar/cursos/turismo/), por indicação da A3ES (agência de avaliação e acreditação). A última remodelação converteu a licenciatura em turismo da UTAD em um curso de gestão turística, mais especializado, com menor peso das ciências sociais e da interdisciplinaridade, menos humanista, menos eclético, mais gerencial e tecnocrático, uma tendência geral que o tempo e as pessoas julgarão com maior distância espácio-temporal.

Em jeito de sumário, estes 25 anos foram anos de formação de cerca de 1000 profissionais do turismo, a maioria a trabalhar na região Norte de Portugal, e não todos em turismo. É o retorno do investimento público necessário em capital humano, em pessoas e profissionais, com os quais o nosso trabalho “imaterial” faz com que tenhamos hoje um melhor turismo e um melhor desenvolvimento. Estamos muito orgulhosos dos nossos alunos e ter compartido com eles a formação e em definitiva a vida em comunidade académica. São muitas as organizações, instituições e empresas que têm contribuído para a formação dos nossos estudantes, para elas o nosso “Muito Obrigado! Ano trás ano recebemos na UTAD de 60 a 70 estudantes que iniciam os seus os estudos em turismo, e de entre os cursos de turismo do país, os alunos que entram para a UTAD estão entre os 3 e 5 cursos (de um total de 80) com médias de entrada mais altas. Especialmente a região Norte de Portugal interior tem ganho muito com isso, pois o turismo não funciona bem sem técnicos superiores, sem empresários e sem trabalhadores com boa preparação e formação permanente. Na minha apreciação, e como docente do curso desde o início, a aposta da UTAD no Turismo tem sido positiva para Trás-os-Montes e Alto Douro, mas agora temos que afrontar novos desafios que também são do Douro, de Trás-os-Montes, do Alto Tâmega e Barroso, do Norte de Portugal e de todo o país. Os reptos que considero devemos afrontar coletivamente são os seguintes:

a) A articulação da licenciatura em turismo com o novo mestrado em Turismo da UTAD, a abrir no próximo ano letivo 2024-2025, e as novas necessidades sociais e turísticas.

b) Ensinar um turismo com mais humanismo e hospitalidade, marcas diferenciais da nossa identidade como povo.

c) A melhora na cooperação e articulação com as escolas profissionais de turismo e os institutos politécnicos do Norte de Portugal.

d) Tornar atrativas e cativantes as diferentes profissões do turismo e prestigiar estas na medida em que contribuem para a realização pessoal e coletiva.

e) A aposta no aumento da colaboração com os agentes turísticos, especialmente os do interior Norte de Portugal e a Galiza, entendendo as suas necessidades e perspetivas de uma forma crítica, empática e resolutiva.

f) A atração de mais estudantes internacionais que acabem por enamorar-se da região e iniciar nela planos de vida que repovoem o interior.

g) O acréscimo da digitalização do ensino-aprendizagem sem descurar o contato humano com os estudantes e as exigências de uma boa formação em hospitalidade turística.

h) A convicção de que o turismo responsável e sustentável pode ser benéfico para o pais e a coesão territorial nacional e europeia, porque o turismo é um instrumento de paz, de luta contra etnocentrismos e de interculturalidade positiva.

i) O desenvolvimento de uma política de turismo científico e de encontros académicos, bem ligados à investigação do turismo e outras áreas, e que tragam conhecimento e dinâmicas de cooperação com a região.

j) Uma melhor articulação entre o turismo, as agriculturas (diversas) e outros setores económicos da região, que tanto potencial apresentam e ainda estão por desenvolver.

k) A aposta na formação de estudantes do litoral e a criação de meios, condições e oportunidades para que fiquem a trabalhar no interior.

l) A criação de ofertas de formação continua em turismo para satisfazer as necessidades que a complexa realidade nos coloca, permitindo aos profissionais a sua atualização e reactualização constante.

Em modo de síntese, a história do turismo no nosso país é também a história da sua formação. A acumulação de experiência docente, gestora e investigadora, representa um capital de futuro que não devemos descurar. Pensamos que a qualidade do turismo (experiência, produtos e vivências) depende em grande medida da qualidade dos seus profissionais (turistores), pelo que investir na sua formação é investir num melhor futuro para tod@s.


Xerardo Pereiro (mail: xerardopereiro@utad.pt)

Xerardo Pereiro é professor “associado com agregação” da UTAD (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), Vila Real – Portugal, na área científica/disciplinar de “Antropologia, Sociologia e Serviço Social”; agregado em antropologia pelo ISCTE (Lisboa), “doutor europeu” em antropologia sociocultural pela Universidade de Santiago de Compostela (Galiza) e doutor “internacional” em turismo pela Universidade de La Laguna (Canarias – Espanha). Foi investigador visitante na Universidade Complutense de Madrid, na de Milão, no ISCTE (Lisboa), na Universidade de Edimburgo e na de Birmingham, entre outras. É investigador do CRIA (Centro em Rede de Investigação Antropológica - https://www.cria.org.pt/pt ) e membro do Departamento de Economia, Sociologia e Gestão da UTAD. Foi coordenador da licenciatura em Antropologia Aplicada da UTAD e diretor do mestrado em antropologia UTAD-ISCTE, também foi diretor da licenciatura em turismo da UTAD (2017-2021). Foi prémio Vicente Risco de Antropologia e Ciências Sociais 1994, prémio Irmandinhos de investigação social 1996, prémio FITUR 2007 de investigação turística em Ibero-América, finalista do prémio “Ángel Carril 2010” de antropologia, e prémio Gabriel Escarrer - Sol-Meliá 2011 de estudos turísticos, entre outras distinções. Foi professor visitante nas universidades de Vigo, Santiago, Corunha, Salamanca, Nova de Lisboa, Pablo Olavide de Sevilha, Fernando Pessoa, Sevilha, Panamá, Equador e Costa Rica, entre outras. Pesquisa sobre antropologia do turismo, relações rural-urbanas, património cultural e turismo. Tem realizado trabalho de campo antropológico nas Astúrias, Galiza, Norte de Portugal e Panamá. É editor temático de revista PASOS- Revista de Turismo e Património Cultural (indexação JCR e Scopus) (http://www.pasosonline.org/en/ ).


RESEARCHERID: K-8457-2014






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